quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Prá ver a banda passar...

 
CARTA ABERTA AO
CHICO BUARQUE,  DO SEU VIZINHO.

"Chico,

Confesso que fiquei chocado ao vê-lo desfilar na  passarela da Dilma, cantarolando como se  estivesse a defender uma causa justa, honesta e patriótica.

Logo você, Chico, que ganhou tanto dinheiro  encantando a juventude da década de 1970 com  parolas em prosa e verso sobre liberdade e  moralidade. Percebo que aquilo que você chamava de ditadura foi, na verdade, o grande negócio da  sua vida. Afinal, você estava à toa na vida.

Você deveria  agradecer aos militares por tudo o que te fizeram, porque  poucos, muito poucos, ganharam tanto dinheiro vendendo ilusões em forma de música e poesia como você.

Estou agora fazendo essa regressão, após vê-lo claudicante como A Mulher de Aníbal no palanque do Lula e da Dilma. Claro que deu para perceber o seu constrangimento, a sua voz trêmula e pusilânime, certamente sendo acusado pela sua consciência de que estava naquele momento avalizando, endossando todas as condutas deste governo trêfego e  corrupto.

Nunca, jamais imaginei, Chico, que você pudesse  se prestar a isso algum dia.  Mas é possível antever que apesar de todos vocês, amanhã há de  ser outro dia. Quando chegar o momento, esse nosso sofrimento, vamos cobrar com juros. Juro ! Você, como  avalista, vai acabar tendo que pagar dobrado cada lágrima  rolada.

Você vai se amargar, Chico, e esse dia há de vir  antes do que você pensa.

Não sei como você vai se  explicar vendo o céu clarear, de repente,  impunemente.

Não sei como você vai abafar o nosso  coro a cantar, na sua frente. Apesar de vocês, Chico, amanhã há de ser outro dia. Estamos sofrendo por ter que beber essa bebida amarga, dura de tragar. Temos pedido ao Pai que afaste de nós esse cálice, mas quando vemos você, logo  você, brindando e festejando com todos eles, só nos resta  ficar cantando coisas de amor e olhando essa banda passar.

E pedir que passe logo, porque apesar de vocês  amanhã há de ser outro dia.
Estamos todos cada qual no seu canto, e em cada  canto há uma dor, por conta daquela cachaça de graça que a gente tem que engolir (lembra ?), ou  a fumaça e a desgraça que a gente tem que tossir.

Só espero, Chico, que as músicas que você venha a  compor em parceria com os seus amigos prosélitos de palanque não falem mais de amor, liberdade, moralidade e ética - essas coisas que você  embutia disfarçadamente nas suas letras agora mortas de  tristeza e dor.

Não fale mais disso - não ficará bem no seu  figurino agora desnudo.

Componha, iluda, dance e  se alegre com todos eles, ganhe lá o seu  dinheiro, e entre na roda e coloque tudo na sua cueca - ou onde preferir - mas não iluda mais os nossos jovens com  suas músicas, simbolizadas hoje apenas na sua gloriosa A Volta do Malandro.

(assinado)   

Seu Vizinho ao Lado....."

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