quarta-feira, 3 de abril de 2013

A COCADA DA BAIANA

 
 
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Ucho Haddad –

Dilma, não fosse a herança maldita deixada por seu "companheiro" Lula e a incompetência da equipe ministerial o seu governo seria minimamente aceitável. Isso porque você é dona de impressionante ousadia. Não me recordo, mas creio que já abordei esse assunto em algum dos nossos colóquios redacionais. Ousadia é para poucos, é algo que faz da essência da pessoa um palco de teatro. Você pode até não perceber, sentir-se avexada, mas é latente a sua vocação teatral, para a representação. Só é preciso decorar melhor o texto, pois do contrário você será vítima de inevitáveis discursos desconexos.

Você pode alegar que uma presidente pode tudo apenas porque é dona do poder, mas esse poder é passageiro. Veja o seu amigo Lula. Que baita vexame! De salvador do universo a fugitivo da imprensa. De inocente por conveniência a alarife de ocasião. Primeiro se cala diante do envolvimento da namorada no escândalo Rosegate, depois some. Chama os adversários de vagabundos e agora fala bobagens para explicar o esquema com as empreiteiras e diz que está pronto para vender linguiça brasileira no exterior. Cuidado, Dilma, porque você pode acabar na mesma situação caso repita o padrinho político e acredite que é a Rainha de Sabá.

Quando me refiro à sua ousadia – escolhi essa palavra para não usar "desfaçatez" – é porque você tem dado motivos de sobra para que o meu pensamento caminhe nessa direção. Antes de fazer aquela farra oficial em Roma, pegando carona na entronização do papa Francisco, você disse, na Paraíba, "podemos fazer o diabo na hora da eleição" e depois entra no Vaticano com semblante angelical. Isso é coisa de atriz, Dilma! Você me fez lembrar de "Deus e o diabo na terra do sol", filme de Glauber Rocha e que marcou o chamado cinema novo.

Muito antes desse disparate vernacular, Dilma, você, ainda na campanha de 2010, experimentou uma tremenda saia justa ao defender o aborto, assunto que saiu da linha de tiro porque Gabriel Chalita levou-a até a Basílica de Aparecida, como se isso tivesse convencido a massa pensante brasileira. O que mais impressiona é que você se encontra com o papa argentino e diz que Deus é brasileiro. Confesso, Dilma, que é uma colossal novidade para mim essa sua proximidade com Deus. É verdade que o Criador não faz diferença entre seus filhos, mesmo com os desgarrados, mas você posando de carola é no mínimo hilário. Ou será que o deus a que você se refere é um que presidiu o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC? Se for, Dilma, você está lascada, porque até no cordeiro de Deus ele é lobo com a pele alheia. Esse deus em que você coloca a maior fé é a fulanização do pecado. Você não tem o biótipo de deusa, mas Dilma, tende piedade de nós e dai-nos a paz.

Dilma, a sua teatralidade é merecedora de todos os prêmios da categoria. Ainda em Roma, você disse que os moradores dos morros de Petrópolis deveriam ser arrancados à força de suas casas, como se o futuro de alguém pudesse ser decidido com um pé de cabra. Sabe, Dilma, metade dos brasileiros gostaria que você usasse essa truculência discursiva com os corruptos do seu governo. Os mesmos que você disse que seriam combatidos, mas que agora engrossam a claque da sua campanha pela reeleição. Paciência, não é mesmo Dilma, afinal a política é a arte da incoerência, seara na qual você tem se dado muito bem.

Após defender o uso da truculência com os desabrigados de Petrópolis você subiu no avião presidencial e foi à missa de sétimo dia pela morte de trinta e três pessoas que acreditaram na sua promessa, em janeiro de 2011. Tudo bem, Dilma, você pode até dizer que estava no começo do mandato e que tudo era novo e desconhecido, mas para quem foi o braço direito do Messias tupiniquim isso é uma atitude muito feia. Dilma, nesse Brasil maravilhoso que só você e o Lula conseguiram construir muita gente promete o que sabe ser possível cumprir, mas acaba não cumprindo porque essa excelência que reina no País atrapalha. Basta ver os carnês atrasados que entopem as gavetas dos incautos que acreditaram nas falácias palacianas. Todos que abraçaram os carnês prometeram pagá-los. Como o tiro saiu pela culatra da garrucha palaciana, vocês, gênios fantasiados de vermelhos, reinventaram a classe média.

Além de ser teatral, Dilma, você falta com a verdade acreditando que todo brasileiro sofre de falta de memória. A realidade é outra! Há muito mais pessoas nesse nosso Brasil varonil atentas às bobagens que você e seus estafetas fazem do que imagina a vã filosofia oficial. Você fala no diabo, sugere o uso de força em Petrópolis, não entregou as casas prometidas aos moradores da cidade e ainda vai à missa com aquela presidencial face de consternada. Tudo certo, Dilma, Deus há de lhe perdoar por mais esses pecados. Mas só Deus, porque pelo menos 80 milhões de brasileiros já perderam a paciência com você. O que mostra que são mentirosas (quiçá encomendadas) essas pesquisas de opinião que colocam no céu quem fala que faz o diabo.

Aproveitando que você está em fase de intimidade com o Senhor, lembro que defender mentiroso também é pecado. Por isso, Dilma, deixe de defender o "cumpanhero" Lula e suas viagens patrocinadas por empreiteiras. Você corre o sério risco de se dar muito mal nessa história, que está mais para estória. Aliás, o Lula é uma estória de péssimo gosto e muito mal escrita.

Dilma, o Brasil já percebeu que você não sabe o que fazer para liquidar a inflação, mas não precisa exagerar na mentira quando falar sobre esse fantasma que tanto nos assusta. Só porque você foi à África do Sul carregando na frasqueira o menor PIB dos Brics todos os jornalistas que lhe acompanharam ficaram zumbis. Dilma, você foi muito clara ao externar seu pensamento sobre a inflação. E depois, como se fosse o John Wayne enfurecido, disse que repudia a "manipulação de palavras". Filosoficamente isso é lindo e correto, mas você não deixou dúvidas ao afirmar que "não acredita em políticas de combate à inflação que olhem a redução do crescimento econômico".

Você deveria pedir à assessoria presidencial para comprar um par de espelhos retrovisores. Se estivesse utilizando essa novidade da indústria automobilística teria conseguido ver a expressão de contrariedade do ainda ministro Guido Mantega e do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. A sorte é que você não tem vocação para Indira Gandhi, pois do contrário ambos disputariam o direito de matá-la pelas costas.

Dilma, é velha e batida essa tática de culpar a imprensa pelas besteiras que os inquilinos do Palácio do Planalto cometem. Trata-se de atitude tão chicaneira, que até hoje o magnânimo Lula faz isso. Atitude de gente incompetente e ignorante. Se você acredita que se encaixa nesse diapasão, siga em frente na sua cruzada contra a mídia. A sua fala não foi distorcida nem mesmo pelos jornalistas que passam no caixa do Palácio do Planalto. Você falou o que pensa sobre a inflação e não conseguiu segurar o barraco oficial que foi armado em terras sul-africanas. E viu na matreirice de culpar a imprensa a sua tábua de salvação. Que coisa feia, Dilma!

A confusão que aconteceu na África do Sul, Dilma, é compreensível. Você foi até lá para "causar" e foi obrigada a enfiar a viola no saco. Por isso se agarrou à tese de que "a necessidade não tem limite" e atropelou os jornalistas, porque dar carona a dois ministros demissionários deve ser constrangedor. Diria o seu amigo Lula, "nunca antes na história deste país". Sem contar que no lugar deles eu não subiria no seu avião (na verdade é nosso) tendo oito horas de oceano lá embaixo. Vai que durante a viagem de volta baixa o espírito de algum daqueles "doces" generais argentinos e você decide presentear com um mergulho oceânico esses abusados que combatem a inflação olhando a redução do crescimento econômico.

Dilma, compreendo que presidir o país de Alice é um tarefa árdua e extenuante, situação que leva qualquer um ao devaneio, mas é preciso doses mínimas de humildade quando se erra. Na verdade, Dilma, errar é, na maioria das vezes, o caminho mais curto para o acerto. Contudo, para aceitar essa tese é preciso saber resignar-se. E isso é exigir demais dos petistas, sempre fenomenais, infalíveis, messiânicos, oráculos do Senhor no planeta.

Sem contar que você fala da inflação como se tivesse água de coco na cabeça e continua acreditando que é a última cocada no tabuleiro da baiana. Assim fica difícil, Dilma!

 

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